Novo curso de Biotecnologia e Monitoramento Ambiental (Mestrado)

O novo curso de mestrado em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) inicia suas atividades em março/2012, no campus de Sorocaba.  O programa de pós-graduação tem como objetivo atender à crescente demanda por recursos humanos especializados nas áreas de biotecnologia, monitoramento ambiental e desenvolvimento de tecnologias voltadas a sustentabilidade.

Os grupos de pesquisa desenvolvem investigações sobre o monitoramento do meio ambiente por meio de análises químicas, ecotoxicológicas, microbiológicas e genéticas, usando indicadores químicos e biológicos. Trabalham também a engenharia de biomoléculas marcadoras, especialmente enzimas, para o desenvolvimento de novas tecnologias de detecção biológica e ambiental.

Existem outros 23 cursos de biotecnologia no Brasil, mas o novo programa da UFSCar é o primeiro voltado especificamente ao monitoramento ambiental.

Fontes

Agência FAPESP

Mais informações: www.ppgbma.ufscar.br/

Livro gratuito sobre Nanotecnologia

A nanotecnologia é o estudo, manipulação, construção de materiais, substâncias, dispositivos e objetos em escala nanométrica (bilionésimo de metro). A aplicação ocorre em diversas áreas, como fármacos, dispositivos semicondutores, sistemas de energia, polímeros, novas soluções para problemas energéticos e soluções para a agricultura.

As Nanotecnologias não são uma indústria, mas, certamente, estarão presentes em todos os setores industriais. Partindo-se desta idéia de base, é importante que se conheça, de modo claro e atualizado, não apenas o escopo das mesmas, como também sua definição, à luz dos interesses das indústrias, na medida em que estes pontos acabam tendo uma imbricação natural com a política de patentes e as questões relacionadas com a propriedade industrial.

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) acaba de lançar o estudo Nanotecnologias: subsídios para a problemática dos riscos e regulação.

O livro teve sua produção coordenada pela Fundação de Desenvolvimento da Universidade Estadual de Campinas (Funcamp) e oferece informações a pesquisadores, empresários e entidades que lidam com o assunto. O responsável técnico da publicação é Oswaldo L. Alves, professor do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas.

Além de abordar riscos e questões regulatórias relacionadas ao uso de nanotecnologia na indústria ou na academia, a publicação reúne ampla bibliografia sobre o tema.

O estudo está disponível gratuitamente em: www.abdi.com.br/Estudo/Relat%C3%B3rio%20Nano-Riscos_FINALreduzido.pdf

Fonte: http://agencia.fapesp.br/15002

Os números de 2011

Os duendes de estatísticas do WordPress.com prepararam um relatório para o ano de 2011 deste blog.

Aqui está um resumo:

Um bonde de São Francisco leva 60 pessoas. Este blog foi visitado cerca de 3.600 vezes em 2011. Se fosse um bonde, eram precisas 60 viagens para as transportar.

Clique aqui para ver o relatório completo

Efeitos positivos dos transgênicos na agricultura

A indústria Biotecnológica foi responsável pelo crescimento da agricultura mundial em quase US$65 bilhões de 1996 a 2009, segundo uma análise conduzida por Graham Brookes e Peter Barfoot da PG Economics Ltd. na Inglaterra. Brookes e Barfoot investigaram o impacto econômico da Biotecnologia agrícola em fazendas, analisando os rendimentos, custos de produção, renda agrícola direta, efeitos indiretos da renda e os impactos na produção das quatro principais culturas (soja, milho, algodão e canola).

Houve um aumento de cerca de 65 bilhões de dólares na renda líquida das fazendas, que é o benefício após o pagamento das sementes. Eles calcularam que quase metade da renda global líquida provém de produtores rurais em países em desenvolvimento.

 “A biotecnologia e especificamente as lavouras geneticamente modificadas (GM) têm tido um impacto positivo importante na renda das fazendas resultante de uma combinação de maior produtividade e ganhos em eficiência,” acreditam eles. Ela tem acrescentado 5,8% ao valor da produção global das quatro principais culturas examinadas, com mais economia para a produção de soja.  A equipe também relata que em 2009, 53,1% dos benefícios da renda agrícola foram para os produtores em países em desenvolvimento e a grande maioria daqueles ganhos em renda originou do algodão transgênico resistente a insetos e da soja transgênica com tolerância a herbicidas.

O relatório (set./2011) completo foi publicado pela International Journal of Biotechnology (The income and production effects of biotech crops globally 1996-2009. Int. J. Biotechnol., 12, 1-49, 2011).

Fontes

http://www.anbio.org.br/
http://www.physorg.com/news/2011-09-benefits-biotech-gm-crops-benefit.html.

De carona no parasita: novo método biotecnológico de vacinação do gado (Notícias)

 Cientistas da University of Edinburgh desenvolveram uma técnica que utiliza um parasita que vive no gado, mas que não oferece riscos a sua saúde para levar medicamentos e antígenos para a corrente sanguínea dos animais. O novo método (chamado de Trypanosomatid-Based Delivery System) consiste em inserir o material genético da vacina no DNA do parasita para que ele entre em contato com o sangue do hospedeiro e libere antígenos ao longo do tempo

Os Tripanossomas quando patogênicos, são responsáveis por doenças de grande importância médica humana e veterinária principalmente em países da África e América do Sul, como as Leishmanioses, Doença de Chagas e Tripanossomíases Africanas.

Porém, Tripanossomas não patogênicos são também encontrados mundialmente, infectando um grande número de hospedeiros. Um exemplo é o Trypanosoma theileri, um protozoário que está presente em bovinos. Os cientistas exploraram estas características e utilizaram o Trypanosoma theileri como um novo “veículo de transporte” de antígenos de vacinas e outras proteínas.

O tratamento poderá oferecer resistência por longo prazo contra doenças como a febre aftosa, tuberculose bovina, entre outras. Os cientistas afirmam que a técnica também pode ser adaptada para transportar alguns tipos de medicamentos.

Segundo o pesquisador líder do projeto, Keith Matthews (School of Biological Sciences), “o método tem potencial para prevenir e erradicar muitas doenças e é um metodo economicamente viável para produtores com poucos recursos.”

Fontes

http://www.cib.org.br/

http://www.biology.ed.ac.uk/research/groups/kmatthews/index.htm

Artigo completo: http://www.plospathogens.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.ppat.1002340

Argentina aprova plantio e comercialização de novo milho transgênico (Notícias)

O Ministério da Agricultura da Argentina autorizou, no dia 1º de dezembro de 2011, o plantio, o consumo e a comercialização de mais um milho geneticamente modificado (GM). A nova variedade da planta, que ainda não foi aprovada no Brasil, é tolerante a herbicidas e vai ser mais uma tecnologia disponível para os agricultores do país vizinho.

Na Argentina, até hoje, estão aprovados 22 organismos geneticamente modificados: 3 variedades de soja, 3 variedades de algodão e 16 variedades de milho. Desses, cinco foram aprovados em 2011.

De acordo com o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações Biotecnológicas Agrícolas (ISAAA), a Argentina é o terceiro país que mais planta transgênicos no mundo, com 22,9 milhões de hectares cultivados em 2010, atrás de Estados Unidos (66,8 milhões de hectares) e Brasil (25,4 milhões de hectares).

Fonte: http://www.cib.org.br

Gene do sono (Notícias)

Napoleão Bonaparte e Leonardo da Vinci são exemplos de pessoas que precisavam de poucas horas diárias de sono. De acordo com novo estudo publicado na Revista Molecular Psychiatry, o sono pode ter um princípio genético.

Cientistas alemães (Universidade de Munique) descobriram um gene chamado de ABCC9 que afeta a duração do sono e pode explicar porque algumas pessoas não precisam dormir muitas horas por dia. Os cientistas estudaram mais de 4.000 europeus em 7 países e analisaram seus genomas. Cada um dos participantes preencheu um questionário relativo a hábitos de sono e doou uma amostra de DNA – que posteriormente foi analisada com milhares de marcadores genéticos, para conseguir identificar aquele(s) que seria mais comum nas pessoas que dormem mais.

Este gene também foi associado anteriormente com diabetes e doenças do coração. Um outro gene (chamado Dec2), foi igualmente identificado e relacionado com a duração do sono, mas foi encontrado apenas em algumas pessoas. O ABCC9 é o primeiro gene que estabelece uma forte relação com o tempo de sono e que é detectado na população em geral. Porém, novos estudos são necessários para entender os mecanismos genéticos do sono.

Fontes
http://www.cienciahoje.pt/
http://abcnews.go.com
http://www.nature.com/mp/journal/vaop/ncurrent/full/mp2011142a.html (artigo)

A polêmica da aprovação do feijão transgênico

Recentemente (set./2011) a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança CTNBio) aprovou o feijão transgênico desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A variedade 100% nacional da espécie carioquinha é resistente à doença conhecida como mosaico dourado. A região sudoeste paulista, responsável por 90% da produção estadual, praticamente deixou de plantar uma das duas safras anuais do grão por causa da praga conhecida como mosca branca.

A aprovação na CTNBio se deu por votação depois de análise técnica de um relatório de 500 páginas elaborado pelos pesquisadores da Embrapa. O transgênico foi aprovado por 15 votos favoráveis, 2 abstenções e 5 manifestações pelo prolongamento das discussões.

Agora, Embrapa realizará ensaios para registrar a aprovação no Ministério da Agricultura que pode demorar até 3 anos para a disponibilização das sementes aos produtores. Segundo um dos Pesquisadores responsáveis, Francisco Aragão, este feijão vem sendo estudado desde 2000 e somente em 2004 a planta foi gerada.

 

Mas as opiniões sobre o tema são divergentes:

Se não ficaram doentes com os alimentos convencionais até hoje consumidos, melhorados frequentemente por mutagênese pesada, e cultivados com pesticidas e fertilizantes, se, em média, estamos ganhando 5 a 6 horas de vida por dia devido à múltiplos fatores ligados à educação, ciência e tecnologia, consumam alegremente e com orgulho o feijão da Embrapa. Como benefício extra, saibam que este feijão receberá menos ou nenhum inseticida, o único recurso existente para reduzir a infestação com a mosca branca, que transmite o vírus. Bom apetite” Francisco G. Nóbrega e Maria Lucia Zaidan Dagli (Professores da Universidade de São Paulo).

“Para garantir que não existe risco para a população de se alimentar com este feijão foram analisados 10 ratos (3 deles foram sacrificados para análises), que foram alimentados por apenas 35 dias com o feijão transgênico comparados com o mesmo feijão não transgênico. Não foram avaliados, ao menos não foram apresentados, dados sobre os efeitos em animais em período de gestação e tampouco estudos de efeitos sobre mais de uma geração, previstos em normas da CTNBio. Como se pode obter dados significativos com a avaliação de 3 animais alimentados durante 35 dias? Lembrando que a população brasileira consome durante toda a vida? Nenhuma revista científica séria no mundo aceitaria um trabalho destes para publicação com esta amostragem, mas os “cientistas” aceitaram” José M.G. Ferraz (membro da CTNBio, pesquisador aposentado da Embrapa, pesquisador convidado do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp e diretor da Associação Brasileira de Agroecologia).

“Não vejo a hora de plantar esse feijão” Luis Domingues Ramos (agricultor, produtor em Itapeva, sudoeste paulista).

 “Os ativistas contra transgênicos são mais enfáticos contra esse transgênico, produzido no Brasil, do que contra os feitos pelas grandes empresas internacionais”. Francisco Aragão (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia).

“A justiça cometerá uma injustiça se barrar o feijão da Embrapa” Walter Colli (professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo e presidente da CTNBio entre 2006 e 2009).

Caso entre de fato em produção, o feijão da Embrapa será a primeira variedade modificada produzida no Brasil, sem participação das grandes empresas multinacionais. Vários outros vegetais transgênicos já foram liberados no Brasil, como a soja e o milho, ambos frutos de pesquisas com o envolvimento de empresas multinacionais. Por que tanta preocupação com uma variedade 100% nacional? Sabemos da dificuldade de realizar pesquisas no Brasil. Para muitos pesquisadores do Brasil esta aprovação é motivo de orgulho.

Para saber mais

Avaliação de risco do feijoeiro transgênico: serenidade na condução e consistência dos resultados (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=79531)  (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=79511)
O feijão transgênico da Embrapa é seguro(http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=79573)
 
Fontes
http://revistapesquisa.fapesp.br
http://www.jornaldaciencia.org.br
http://www.estadao.com.br

Primeiro animal com informação genética artificial (Notícias)

Pesquisadores do Council Medical Research (Cambridge/Reino Unido) criaram o que dizem ser o primeiro animal com informação artificial em seu código genético. A técnica pode dar um “controle átomo por átomo” das moléculas em organismos vivos. A equipe de pesquisadores usou vermes nematoides e o trabalho foi publicado na revista Journal of the American Chemical Society.

O que torna o animal único é que seu código genético foi estendido para criar moléculas biológicas que não são conhecidas no mundo natural. Nos organismos naturais vivos, são encontrados apenas 20 aminoácidos, mas os pesquisadores Jason Chin e Sebastian Greiss fizeram um trabalho de reengenharia da máquina biológica do verme para incluir um 21º aminoácido, não encontrado na natureza.

A proteína artificial que é produzida em cada célula do corpo do verme contém um corante fluorescente que brilha em uma cor de cereja quando colocada sob a luz ultravioleta.

Fonte: BBC Brasil

Patentes genéticas: proteção ou comercialização do material genético?

As patentes chamadas genéticas, envolvem a patente de genes, fragmentos de DNA, ESTs, mutações (SNPs), proteínas, etc, é um assunto controverso e de extrema importância. Recentemente (julho/2011) foi divulgada a notícia que um Tribunal dos EUA decidiu que os genes podem ser patenteados. Porém, devemos ser cuidadosos ao ler tal afirmação e entender o que realmente esta notícia representa e quais são os mecanismos de patente nos EUA (a patente de alguns genes já vem sendo realizada nos EUA há muitos anos), que são diferentes do Brasil e da Europa.

A primeira pergunta importante: Por que patentar? Cientistas que trabalham em instituições públicas têm problemas devido à questão da propriedade intelectual por causa de suas restrições, o que torna a ciência mais lenta. Mas a lei da propriedade intectual protege as pesquisas de alto investimento feita por empresas privadas. As empresas são incapazes de investimentos substanciais sem proteção contra competição. Patentes garantem o direito de excluírem outros de fazerem, usarem e venderem sua invenção por um tempo limitado. As patentes devem facilitar a transferência de tecnologia do setor privado e no geral são consideradas positivas. Mas as patentes genéticas não são vistas como positivas por todos.

Patentes de genes isolados são a pedra fundamental da indústria de biotecnologia. Os críticos dizem que é antiético patentear algo que é parte do corpo humano ou do mundo natural. Alguns dizem também que o custo do teste poderia ser reduzido se as empresas não detivessem monopólios de testes em razão de patentes. A “patenteabilidade” das invenções sob as leis americanas são determinadas pelo “Patent and Trademark Office (USPTO)”. Um pedido de patente é julgado pelos seguintes critérios: a invenção deve ser útil num sentido prático, inédita, não óbvia e deve também ser descrita em detalhes. Produtos de DNA são apenas patenteados quando tiverem sido isolados, purificados ou modificados para produzirem de forma única, não encontrada na natureza. A USPTO tem 3 anos para avaliar uma patente. Na Europa, são 18 meses. Patentes no geral são válidas por 20 anos.

Governos, legisladores e tribunais americanos em geral adotam uma postura liberal em relação à comercialização de novas biotecnologias. Na Europa, há enorme controvérsia. A França, que baniu as patentes de genes, está batalhando contra uma diretiva da própria Comunidade Européia, que é a favor. No Brasil os genes humanos não são patenteáveis de acordo com o Art. 18 da Lei de Patentes Brasileira em vigor. Nela, é vedada a concessão de patentes e, portanto, exclusividade a quem quer que seja, para qualquer parte dos seres vivos.

Segundo Sérgio D. Pena, no seu artigo “Deve-se aceitar a patente de genes?”, quando a economia tem base na agricultura, a propriedade mais preciosa é a terra, protegida por cercas. Quando a economia tem base industrial, a propriedade mais preciosa é constituída pelas fábricas, protegidas por edificações. Atualmente, com a nova economia tecnológica, a propriedade mais preciosa é a informação, que tem de ser protegida por patentes. Apesar desse importante papel na economia atual, as patentes não têm uma boa imagem pública, sendo frequentemente associadas à idéia de mercenarismo. A patente é como um contrato entre um inventor e a sociedade. O inventor se compromete a tornar pública a sua invenção e, em troca, a sociedade lhe concede o monopólio para exploração da invenção por um período. Assim, o inventor tem segurança para comercializar sua invenção.

Por exemplo, estima-se que, para o desenvolvimento de um novo medicamento, seja necessário investir de US$ 200 a 400 milhões. Sem a proteção das patentes, as empresas farmacêuticas não fariam o investimento e os novos remédios jamais chegariam ao mercado. No campo da genômica, os investimentos privados somam quase US$ 2 bilhões. Essas empresas têm de garantir seu retorno financeiro, que virá na forma de produtos: testes diagnósticos e novos medicamentos. Esse retorno dependerá de as empresas poderem salvaguardar a propriedade intelectual por meio de patentes. Assim, do ponto de vista da lógica, as patentes serão uma parte inevitável e indispensável do processo de transferência do conhecimento. Para muitos a idéia de patentear genes humanos não agrada. No genoma humano está registrada toda a nossa história como espécie e projetada a nossa potencialidade evolutiva. Não queremos que seja propriedade de ninguém. Como conciliar esse conflito? Uma solução seria fazer patentes não dos genes em si, mas dos usos dos genes.

No artigo de Eloi S. Garcia (out./2005, Jornal da Ciência), ele afirma que por várias décadas, inventores e instituições clamam pelo direito de propriedade do isolamento de genes ou do desenvolvimento do uso específico terapêutico desses genes. Assim, não é surpresa esta constatação porque o DNA humano tem sido tratado com qualquer outro produto natural. Uma sequência isolada de DNA pode ser patenteada, se o inventor identifica uma nova aplicação do produto, da mesma maneira que um novo medicamento extraído de uma planta. As patentes genéticas foram fundamentais no desenvolvimento da biotecnologia nos anos 80 e 90 do século passado. A primeira patente obtida em 1978 foi do gene humano codificador do hormônio do crescimento.

O gene mais frequentemente patenteado, sendo ainda objeto de disputas legais, é o BRCA1 envolvido no câncer de mama. Basicamente os cientistas patenteiam genes que pensam ser relevantes para tratamento de doenças, como Alzheimer ou câncer. Alguns acreditam que as patentes de genes podem obstruir o futuro da inovação por dificultar os cientistas na procura de usos alternativos para um gene patenteado. Outros se preocupam com o alto custo social se cientistas, das academias ou indústrias, têm de enfrentar os direitos da propriedade intelectual para fazer mais progresso em suas pesquisas. Há aqueles que questionam o monopólio de uso de um gene por uma empresa e que acreditam que genes e suas funções não são invenções, são descobertas, não estando assim qualificados para serem patenteados. Segundo Eloi, nossos genes devem ser considerados um bem público e como tal ser utilizado para melhoria da qualidade de vida de toda sociedade.

O Escritório Europeu de Patentes concedeu em 2003 a empresa Myriad Genetics a patente sobre um gene que desempenha um papel fundamental no diagnóstico do câncer de mama. Qualquer cientista que precisar fazer testes com esse gene terá que pagar uma licença à Myriad. Para o Greenpeace, os genes sobre plantas, animais e seres humanos não são descobertas da indústria, mas um bem universal inalienável. A Myriad já obteve em 2001 duas patentes sobre outro gene relacionado ao câncer de mama, uma concessão contra a qual os Governos da Holanda e da Áustria apresentaram protestos. E mais recentemente, um tribunal dos EUA decidiu que a mesma empresa tem direito às patentes dos dois genes humanos utilizados em testes genéticos para avaliar se mulheres têm risco de desenvolver câncer de mama e de ovário (BRCA1 e BRCA2). A corte afirmou que os genes isolados pela empresa podem ser patenteados, porque a empresa está testando diferentes formas químicas do gene, que não aparece naturalmente no corpo. (Agora fica um questionamneto meu, se a empresa testa variantes do gene que não existem no nosso corpo, para que utilizá-los em testes de diagnósticos? Isso não ficou claro para mim e não faz sentido, imagino que a empresa está testando mutações deste gene, que devem estar associadas ao câncer, e claro que estas mutações podem estar presentes nas pessoas, mas nem todos terão a mutação, senão não faria sentido a empresa comercializar testes de diagnóstico, ou seja, pelo que entendi a empresa está patenteando uma/ou várias mutações genéticas, não sei se estou totalmente errada na minha observação, gostaria de saber a opinião de vocês!).

A decisão sobre a questão do patenteamento de genes foi também uma rejeição de argumentos feitos pelo governo de Barack Obama, que havia encaminhado um informe argumentando que DNA isolado não deveria ser patenteado. Esse informe foi contra a política desde há muito em vigor do Escritório de Marcas e Patentes dos EUA de conceder essas patentes. Segundo artigo publicado em 2006, o número de pedidos de patentes genéticas caiu substancialmente nos anos anteriores a 2006. Patentes que se referiam a ácidos nucléicos ou termos relacionados chegaram a um máximo de 4.500 em 2001, segundo relatório da revista Nature Biotechnology, e diminuíram nos quatro anos posteriores – talvez conseqüência do endurecimento do escritório de patentes com o pré-requisito de utilidade. Parte da tendência de queda pode ser relacionada a um movimento real de “código aberto” nas ciências biomédicas, parecido com o da informática. Em 1996, cientistas de todo o mundo, conceberam o que se convencionou chamar de Regras das Bermudas, estabelecendo que toda informação do Projeto Genoma Humano deve ser colocada imediatamente em domínio público. Ou seja, os pesquisadores tiraram patentes defensivamente, para se assegurar de que ninguém se apoderasse desse conhecimento.

Grandes empecilhos de propriedade intelectual podem começar a aparecer à medida que a genômica e a proteômica alcançam a maturidade. A pressão sobre um pesquisador que obtém direitos de propriedade intelectual sobre esses genes pode se tornar insuportável, dependendo de quão ampla for a gama de tipos de pedido e de como os detentores de patentes responderem a potenciais infratores. “A genômica e a proteômica estão apenas começando a render frutos na forma de diagnósticos médicos e drogas, disputas de propriedade acontecem para valer quando as coisas se aproximam do mercado”, diz Barbara A. Caufield, chefe do conselho da Affymetrix, a companhia de chips genéticos que é contra o patenteamento do DNA porque poderia impedir a pesquisa com seus produtos.

E você o que acha disso?

Para completar a leitura, achei um documentário chamado Patent For A Pig que fala sobre o patenteamento de genes em suínos: http://temasinternacionais.wordpress.com/2011/03/31/monsanto-patente-do-gen-do-porco/

Mas eu tenho vários questionamentos sobre este vídeo, que na verdade é um documentário contra a empresa Monsanto: 1) Eles dizem que a Monsanto quer patentear um gene em suínos, mas os pedidos de patentes são confidenciais (até serem aprovados), como eles sabem qual é o gene? 2) Eles dizem que não é fácil achar um laboratório para fazer os teste porque pode violar a patente – se a Monsanto tivesse a patente eles estariam violando a patente mesmo e nenhum laboratório faria o teste anonimamente, e se a patente foi concedida nos EUA, não na Europa (onde a maioria dos países não aceita este tipo de patente), não seria contra a lei fazer tal teste, pois parece que o teste é feito na Alemanha. 3) Eles afirmam que os resultados da engenharia genética não são seguros, mas temos milhares de estudos que comprovam a segurança. 4) Tem uma nota no site da Monsanto sobre este documentário abaixo).

Porcos e patentes

Em 2007, a Monsanto vendeu a Monsanto Choice Genetics para a Newsham Genetics LC, de West Des Moines, Iowa. A transação foi completada em novembro de 2007 e a Monsanto não atua mais na suinocultura. Desde uma campanha veiculada pelo Greenpeace em 2005, rumores continuam circulando por ativistas na Internet, dizendo que a Monsanto está tentando patentear genes de porcos. Quando administrava a Choice Genetics, a Monsanto realizou pesquisas para a aplicação de patente de um gene marcador específico de identificação de uma característica suína, mas não a característica em si, e também a aplicação de patente para um único processo de desenvolvimento, incluindo métodos de inseminação artificial. A Monsanto nunca solicitou patente de um gene suíno. Os opositores especulam que tais patentes proibiriam suinocultores de desenvolver linhagens de porcos que já estavam sendo produzidos. Isso não é verdade. As patentes seriam aplicadas apenas em animais que passassem a usar a tecnologia de genes marcadores em seu desenvolvimento. De qualquer maneira, a venda da Choice Genetics para a Newsham Genetics incluiu na negociação todos os direitos de patentes e propriedade intelectual. Assim, a Monsanto está fora dos negócios em suinocultura.

Fontes

Jornal da Ciência (http://www.jornaldaciencia.org.br)

http://www.laboratoriogene.com.br/geneImprensa/deve-seAceitar.htm

http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/elsi/patents.shtml

Folha de SP

Para conhecer mais

Who owns life? Editado por David Magnus, Arthur Caplan e Glenn McGee. Prometheus Books, 2002.

Intellectual property landscape of the human genome. Kyle Jensen e Fiona Murray, em Science, vol. 310, 2005.

Reaping the benefits of genomic and proteomic research: intellectual property rights, innovation, and public health. Comitê de Direitos de Propriedade Intelectual em Genômica e Pesquisa de Proteínas e Inovação. National Academies Press, 2005.